Sunday 17 January 2010

Terra Sonâmbola, Mia Couto

Não marca como a Imortalidade, o livro que li antes. Mas não deixa de ser saborosa a linguagem doce e recriada de Mia Couto, as palavras inventadas mas túrgidas de significado e de poder de evocação. E de ser tocante a tristeza de um país marcado pela guerra, no caso Moçambique, onde todas as esperanças ou sequer a esperança em um dia voltar a ter esperança, feneceram. Dois excertos, do princípio e do fim:

"O menino estava já sem estado, os ranhos lhe saiam não do nariz mas de toda a cabeça. O velho teve que lhe ensinar todos os inícios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez. Esta segunda infância, porém, fora apressada pelos ditados da sobrevivência. Quando iniciaram a viagem já ele se acostumava de cantar, dando vaga a distraídas brincriações. No convivio com a solidão, porém, o canto acabou por migrar de si. Os dois companheiros condiziam com a estrada, murchos e desesperançados."

"A estrada me descaminhou. O destino o que é senão um embriagado conduzido por um cego? Fui sendo levado sem conta nem tempo."

Agora, dois dias para digerir, e segue-se o Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf.

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