Sunday 16 March 2008

O Juizo da História

A História é, em geral, uma justa e ponderada juiza. É uma questão de tempo. As obras conhecidas de toda a gente, aquelas cujos primeiros 5 segundos nos proporcionam um imediato reconhecimento, são o resultado de um apurado processo de decantação histórica. Tamanha capacidade de sobrevivência deverá ser sintomática de alguma qualidade.

O lado perverso deste processo é claro: essas obras sobreviventes tornam-se de tal modo ícones reconhecidos e cristalizados, de tal forma repetidos, que é difícil manter por elas o amor primordial... Não é fácil ouvir a "Sonata ao Luar" de Beethoven ou o adagietto da 5ª Sinfonia de Mahler ou a "Sonata Fácil" de Mozart sem as ligar à banda sonora deste ou daquele filme ou programa, já para não falar de pirosas compilações denominadas "momentos românticos", com o barulho do mar como música de fundo. Assim, não é difícil que obras primas nos provoquem, por vezes, violentos sentimentos de náusea, verdadeira indisposição física, vontade de partir o emissor sonoro de semelhante "cliché".
A Nona Sinfonia de Beethoven, em especial o seu "Hino à Alegria", feito hino da União Europeia, é sem dúvida um destes casos.

Proponho então o seguinte exercício: comece a ouvir o seguinte vídeo ao minuto 3:20... E ao minuto 4:58 sustenha a respiração. Deixe-se embalar na maior cavalgada que conheço na história da música... não em extensão, mas na tensão que se cria, na busca àvida que revela, sempre mais funda sempre mais forte... também a música não respira, é um cavalo com sem freio nos dentes, num sprint vertiginoso... Quando chegar ao minuto 6:20, pode respirar (vai sentir na música, não precisa de contar), e aproveitar para retemperar as forças.
A qualidade do vídeo é muito má, e não soa com um quinto da intensidade que deveria ter... é um ponto de partida, espero, para posterior busca... mas espero que, passados 15 segundos a retemperar os sentidos, o Hino à Alegria soe tão rejubilante, poderoso e único como sempre deve soar!



E o texto de Schiller: http://en.wikisource.org/wiki/Ode_to_Joy

Ah! e devo isto a alguém: MAKUKULA!