Começaram por iniciativa do Andre (alemão) e da Mana (iraniana).
O primeiro filme que vimos, sugerido pela mana, foi o "Persepolis" (2007), de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, vencedor do prémio do Júri no festival de Cannes de 2007. Um filme que percorre o passado recente do Irão acompanhando a história de uma jovem iraniana, ao que parece num registo bastante auto-biográfico da realizadora, passando pela Revolução Islâmica e as profundas alterações sociais subsequentes. Um excelente filme, que recomendo vivamente.
"Let's look at the trailer":
Thursday, 24 December 2009
Wednesday, 16 December 2009
Madrugadas...
Regresso a casa, depois de um excelente pub-crawl com a Franzie, a minha melhor amiga aqui, a celebrar o seu último exame na faculdade e a conclusão do seu Magister.
Apanho o Tram M10 às 4h04, como sempre pontual ao minuto, e troco para o M5, que estava lá mesmo à minha espera. Mais uma vez, maravilhado com a eficiência dos transportes em Berlim, que me possibilitam mesmo a estas horas chegar a casa rapidamente.
Caminho pela minha rua, Werneuchenerstr. Como companhia, esparsos flocos de neve, algumas luzes de Natal a brilhar nas janelas, e um frio de rachar, a lembrar-me como foi estúpido esquecer-me de vestir a segunda camisola antes de sair de casa, disposta sobre a cama, e como se pode ser tão distraído. Tudo junto, compondo uma idílica ambiência de uma terna beleza e suavidade. Compro um maravilhoso bolo numa pastelaria ainda fechada, mas que me acolhe com a rápida cumplicidade forjada pelo adiantar da hora e pelo frio. Recheio de doce de morango. Mingua rapidamente, a cada passo, mártir de uma causa maior.
O calor do quarto é acolhedor, e embala rapidamente o meu sono. Para completar o cenário, só faltava mesmo acordar no dia seguinte com o imaculado lençol branco de neve a cobrir o campo de futebol diante de minha casa.
Aconteceu.
Apanho o Tram M10 às 4h04, como sempre pontual ao minuto, e troco para o M5, que estava lá mesmo à minha espera. Mais uma vez, maravilhado com a eficiência dos transportes em Berlim, que me possibilitam mesmo a estas horas chegar a casa rapidamente.
Caminho pela minha rua, Werneuchenerstr. Como companhia, esparsos flocos de neve, algumas luzes de Natal a brilhar nas janelas, e um frio de rachar, a lembrar-me como foi estúpido esquecer-me de vestir a segunda camisola antes de sair de casa, disposta sobre a cama, e como se pode ser tão distraído. Tudo junto, compondo uma idílica ambiência de uma terna beleza e suavidade. Compro um maravilhoso bolo numa pastelaria ainda fechada, mas que me acolhe com a rápida cumplicidade forjada pelo adiantar da hora e pelo frio. Recheio de doce de morango. Mingua rapidamente, a cada passo, mártir de uma causa maior.
O calor do quarto é acolhedor, e embala rapidamente o meu sono. Para completar o cenário, só faltava mesmo acordar no dia seguinte com o imaculado lençol branco de neve a cobrir o campo de futebol diante de minha casa.
Aconteceu.
Saturday, 5 December 2009
Ventos da Suiça
Foi o medo da Suíça tradicional que venceu a consulta dos minaretes, noticia o Público. E é o medo que tem, também, dominado as reacções à decisão saída do recente referendo na Suiça relativo à proibição da construção de Minaretes nas mesquitas.
Reacções que vão desde a mais primária idiotice, como a do ministro das finanças francês Bernand Kouchner ao interrogar-se se “Será que é uma ofensa num país de montanhas que haja uma construção um pouco mais elevada?” à mais preocupante, da Ministra dos Negócios Estrangeiros suiça, Micheline Calmy-Rey, ao afirmar que o voto “pôs a nossa segurança em risco”. É assim, parece que cada discussão relativa ao Islão, no espaço europeu, decorre hoje com uma espada apontada ao pescoço, de um medo de uma reacção similar à verificada aquando do caso das caricaturas de Maomé, na Dinamarca, ou pior. E são os próprios dirigentes europeus, com estes discursos de tiro no pé, a propiciar o espaço e a legitimidade para a reacção violenta. Casos como o do co-presidente da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, ao apelar a que “os mais ricos dos países muçulmanos retirarem o seu dinheiro dos bancos suíços”.
Sejamos sérios: dificilmente se pode afirmar que um país do tamanho do Alentejo onde existem 180 mesquitas é um espaço onde a liberdade de culto não está salvaguardada. Um dos argumentos mais avançados é que só 4 dessas 180 mesquitas têm minaretes, e portanto estamos a falar de um não-problema dada a sua pequena dimensão. Mas se calhar há uma razão para essas 176 mesquitas não terem minaretes: elas não pertencem à configuração do espaço público europeu, e quem as construiu parece ter respeitado isso.
A cultura é vulgarmente definida como um sedimento de enunciados acumulados ao longo do tempo no seio de uma dada sociedade, e a arquitectura é sem dúvida um elemento constituinte da cultura e da definição da “identidade cultural” de uma cidade. É um privilégio que os cidadãos possam pronunciar-se quanto a alterações estruturantes na morfologia das suas cidades. É a democracia na gestão do espaço público a funcionar. Intrigam-me os grandes defensores da Democracia, que contra ela se erguem sempre que esta não produz os resultados por eles desejados. Mas foi assim que escolhemos viver: parece que é o pior dos sistemas, à excepção de todos os outros, certo?
A Europa oferece valores como a igualdade entre homens e mulheres de todas as raças e credos, os seus serviços públicos de educação, saúde e segurança. A Europa não tem de oferecer a sua história, a sua cultura ou a sua matriz identitária. Quando um membro do comité das Nações Unidas para a questão dos direitos humanos afirma que a proibição suiça “É o equivalente a banir os campanários das igrejas” quase que concordo com ele, com a pequena diferença que o que ele sugere é eliminar mais de mil anos de história e da matriz sobre a qual, gostemos ou não, se construiu a Europa.
Lê-se também no Público:
Consciente das críticas e das consequências, o Governo suíço, que se opôs à proibição, esforça-se por defender que “este voto não modifica em nada os objectivos de política externa da Suíça”, como afirmou a chefe da diplomacia, Micheline Calmy-Rey. “A Suíça mantém relações estreitas com todos os países muçulmanos”, sublinhou numa reunião da OSCE.
É das mais perigosas confusões que assolam o Ocidente, esta incompreensão de que a expressão “dialogar como iguais” não quer dizer que tenham de ser literalmente idênticas as partes em diálogo, mas simplesmente que estas se respeitam mutuamente. Não temos de fundir a nossa identidade com o Islão para dialogar com o Islão, como parecemos ter esquecido; devemos sim respeitar a cultura, a história e as tradições dos outros e exigir que estes respeitam igualmente a nossa. O diálogo só é impossível quando não há respeito mútuo pela opinião alheia, não quando há divergência nas opiniões expressas.
Enfim, o que também me preocupa é que num futuro não muito distante as mulheres europeias sejam proibidas de ostentar poderosos decotes ou saias e calções curtinhos, por tal constituir uma ofensa às práticas muçulmanas. E então, a minha vida perderia um dos seus enormes atractivos. Fico então mais feliz por viver actualmente na Alemanha, dado que, escreve ainda o Público:
Segundo o tablóide “Bild”, que reclama saber medir como nenhum outro o pulso aos alemães, estes votariam provavelmente da mesma forma que os suíços se tivessem a oportunidade. “O minarete não é só o símbolo de uma religião, mas de uma cultura completamente diferente. Grande parte do mundo muçulmano não partilha dos nossos valores europeus básicos: o legado da Iluminismo, a igualdade do homem e da mulher, a separação da Igreja e do Estado, um sistema de justiça independente da Bíblia ou do Corão”, escreve o diário.
Reacções que vão desde a mais primária idiotice, como a do ministro das finanças francês Bernand Kouchner ao interrogar-se se “Será que é uma ofensa num país de montanhas que haja uma construção um pouco mais elevada?” à mais preocupante, da Ministra dos Negócios Estrangeiros suiça, Micheline Calmy-Rey, ao afirmar que o voto “pôs a nossa segurança em risco”. É assim, parece que cada discussão relativa ao Islão, no espaço europeu, decorre hoje com uma espada apontada ao pescoço, de um medo de uma reacção similar à verificada aquando do caso das caricaturas de Maomé, na Dinamarca, ou pior. E são os próprios dirigentes europeus, com estes discursos de tiro no pé, a propiciar o espaço e a legitimidade para a reacção violenta. Casos como o do co-presidente da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, ao apelar a que “os mais ricos dos países muçulmanos retirarem o seu dinheiro dos bancos suíços”.
Sejamos sérios: dificilmente se pode afirmar que um país do tamanho do Alentejo onde existem 180 mesquitas é um espaço onde a liberdade de culto não está salvaguardada. Um dos argumentos mais avançados é que só 4 dessas 180 mesquitas têm minaretes, e portanto estamos a falar de um não-problema dada a sua pequena dimensão. Mas se calhar há uma razão para essas 176 mesquitas não terem minaretes: elas não pertencem à configuração do espaço público europeu, e quem as construiu parece ter respeitado isso.
A cultura é vulgarmente definida como um sedimento de enunciados acumulados ao longo do tempo no seio de uma dada sociedade, e a arquitectura é sem dúvida um elemento constituinte da cultura e da definição da “identidade cultural” de uma cidade. É um privilégio que os cidadãos possam pronunciar-se quanto a alterações estruturantes na morfologia das suas cidades. É a democracia na gestão do espaço público a funcionar. Intrigam-me os grandes defensores da Democracia, que contra ela se erguem sempre que esta não produz os resultados por eles desejados. Mas foi assim que escolhemos viver: parece que é o pior dos sistemas, à excepção de todos os outros, certo?
A Europa oferece valores como a igualdade entre homens e mulheres de todas as raças e credos, os seus serviços públicos de educação, saúde e segurança. A Europa não tem de oferecer a sua história, a sua cultura ou a sua matriz identitária. Quando um membro do comité das Nações Unidas para a questão dos direitos humanos afirma que a proibição suiça “É o equivalente a banir os campanários das igrejas” quase que concordo com ele, com a pequena diferença que o que ele sugere é eliminar mais de mil anos de história e da matriz sobre a qual, gostemos ou não, se construiu a Europa.
Lê-se também no Público:
Consciente das críticas e das consequências, o Governo suíço, que se opôs à proibição, esforça-se por defender que “este voto não modifica em nada os objectivos de política externa da Suíça”, como afirmou a chefe da diplomacia, Micheline Calmy-Rey. “A Suíça mantém relações estreitas com todos os países muçulmanos”, sublinhou numa reunião da OSCE.
É das mais perigosas confusões que assolam o Ocidente, esta incompreensão de que a expressão “dialogar como iguais” não quer dizer que tenham de ser literalmente idênticas as partes em diálogo, mas simplesmente que estas se respeitam mutuamente. Não temos de fundir a nossa identidade com o Islão para dialogar com o Islão, como parecemos ter esquecido; devemos sim respeitar a cultura, a história e as tradições dos outros e exigir que estes respeitam igualmente a nossa. O diálogo só é impossível quando não há respeito mútuo pela opinião alheia, não quando há divergência nas opiniões expressas.
Enfim, o que também me preocupa é que num futuro não muito distante as mulheres europeias sejam proibidas de ostentar poderosos decotes ou saias e calções curtinhos, por tal constituir uma ofensa às práticas muçulmanas. E então, a minha vida perderia um dos seus enormes atractivos. Fico então mais feliz por viver actualmente na Alemanha, dado que, escreve ainda o Público:
Segundo o tablóide “Bild”, que reclama saber medir como nenhum outro o pulso aos alemães, estes votariam provavelmente da mesma forma que os suíços se tivessem a oportunidade. “O minarete não é só o símbolo de uma religião, mas de uma cultura completamente diferente. Grande parte do mundo muçulmano não partilha dos nossos valores europeus básicos: o legado da Iluminismo, a igualdade do homem e da mulher, a separação da Igreja e do Estado, um sistema de justiça independente da Bíblia ou do Corão”, escreve o diário.
Wednesday, 2 December 2009
Diferenças
- Na Alemanha, no fim das aulas, os alunos batem na mesa com os nós dos dedos, como sinal de respeito e agradecimento ao professor. Em Itália, a 10 minutos do fim da aula começam a gritar "BASTA" no fim das frases do professor.
- Na Alemanha, vi um táxi dar passagem a outro carro. Mas pode ter sido uma alucinação, concedo.
- Na Alemanha, as cantinas são piores que em Portugal ou em Itália. São mais caras, mas não dão muita comida, e esta não é muito boa.
- Na Alemanha, não se tem frio dentro de casa, mesmo que lá fora esteja um gelo de fazer tiritar um boneco de neve.
- Na Alemanha, os amigos cumprimentam-se e despedem-se com um abraço, pouco apertado, um pouco estranho.
- Na Alemanha, vi um táxi dar passagem a outro carro. Mas pode ter sido uma alucinação, concedo.
- Na Alemanha, as cantinas são piores que em Portugal ou em Itália. São mais caras, mas não dão muita comida, e esta não é muito boa.
- Na Alemanha, não se tem frio dentro de casa, mesmo que lá fora esteja um gelo de fazer tiritar um boneco de neve.
- Na Alemanha, os amigos cumprimentam-se e despedem-se com um abraço, pouco apertado, um pouco estranho.
Mittwoch, oder Wednesday
Correr de manhã... tanto frio, que quase me caíam as mãos geladas!
À tarde, por sugestão de uma amiga alemã, fomos visitar o Hohenschönhausen Memorial, uma antiga prisão da STASI (a polícia política da Alemanha de Leste) para presos políticos e que foi preservada e transformada em museu. Já tinha visto este complexo com muros altos e torres de vigia numa das minhas corridas pelo bairro, mas não sabia exactamente o que era. Fui lá com a Maren hoje.
A guia, ex-reclusa (em Dresden, em Berlim esteve só de passagem) tinha um inglês que deixava bastante a desejar e que prejudicou um bocado a apresentação. Parcialmente, compensou-o com a sua teatralidade e simpatia, mas apenas parcialmente. Ficou sob investigação após ter apanhado uma boleia rumo à Hungria e conversado mais do que devia com o seu simpático e providencial enviado do destino. A vida tornou-se difícil, deixou de poder sair do país em viagem, não conseguia mudar de emprego, não sabia porquê mas a vida tornava-se para ela impossível. Só soube disto tudo em 1990, quando os alemães de leste puderam consultar os seus ficheiros nos arquivos da Stasi.
Assim, tentou a fuga para a Checoslováquia. Mas foi apanhada. "Condenada" pela STASI a dois anos e meio de prisão, cumpriu um ano e depois foi "comprada" pela Alemanha Ocidental, por intermédio de um programa instituído na altura que o permitia.
Mais informações aqui.
À tarde, por sugestão de uma amiga alemã, fomos visitar o Hohenschönhausen Memorial, uma antiga prisão da STASI (a polícia política da Alemanha de Leste) para presos políticos e que foi preservada e transformada em museu. Já tinha visto este complexo com muros altos e torres de vigia numa das minhas corridas pelo bairro, mas não sabia exactamente o que era. Fui lá com a Maren hoje.
A guia, ex-reclusa (em Dresden, em Berlim esteve só de passagem) tinha um inglês que deixava bastante a desejar e que prejudicou um bocado a apresentação. Parcialmente, compensou-o com a sua teatralidade e simpatia, mas apenas parcialmente. Ficou sob investigação após ter apanhado uma boleia rumo à Hungria e conversado mais do que devia com o seu simpático e providencial enviado do destino. A vida tornou-se difícil, deixou de poder sair do país em viagem, não conseguia mudar de emprego, não sabia porquê mas a vida tornava-se para ela impossível. Só soube disto tudo em 1990, quando os alemães de leste puderam consultar os seus ficheiros nos arquivos da Stasi.
Assim, tentou a fuga para a Checoslováquia. Mas foi apanhada. "Condenada" pela STASI a dois anos e meio de prisão, cumpriu um ano e depois foi "comprada" pela Alemanha Ocidental, por intermédio de um programa instituído na altura que o permitia.
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