Wednesday 10 September 2008

Tempos Modernos



Há cerca de dois anos, fui passar um fim-de-semana numa quinta de turismo de habitação. Uma casa senhorial antiga, muito muito bonita. O pequeno almoço era delicioso, servido por uma senhora velhinha, de andar vagaroso e sereno como a manhã que se abria. A dona da casa, uma Senhora, confidenciou que o seu filho (que era quem efectivamente "geria" as coisas) a queria dispensar, pois ela era já muito lenta. Mas esta Senhora nem queria pensar em tal ideia. A empregada velhinha trabalhava naquela casa há muitos muitos anos, era já parte da casa, e portanto jamais seria dispensável. Jamais seria descartável. A Senhora, nobreza em pessoa.
Não acho que o filho fosse menos "humano" ou bem formado que a sua mãe. Seriam até, nesse aspecto, farinha do mesmo saco. Talvez seja mais a diferença geracional em acção.
Somos de facto produto de uma sociedade em que tudo se tornou "descartável". Começou pelas fraldas e seringas (o que é bom), mas claramente desembocou nos afectos e nas pessoas. Pessoas como meios, e não como "fins em si mesmos" como Kant nos propôs.
É uma sensação de impotência tremenda, quando presenciamos alguém tratado como mercadoria. Descartável. Porque é daquelas situações em que toda a nossa simpatia, mesmo toda a nossa simpatia, não vale rigorosamente nada.

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