Saturday, 19 May 2007
Dias de Sol...
Um dia de Sol, após uma manhã de estudo no Conservatório, caminhava em direcção ao Chiado, cruzei-me com um miúdo pequeno e mulato que vinha de mão dada com a mãe em sentido contrário. Fiz-lhe uma festinha na cabeça, e ele virou-se para trás e agraciou-me com um dos sorrisos mais extraordinários de que guardo memória...
Já no metro, nas escadas rolantes, uma chinesa carregada de sacos pretos e o rosto cansado e desgastado de quem carrega um peso quotidiano ainda maior aos ombros... Resolvi voltar a tentar, e novo sorriso veio de volta.
Um dia de estudo de piano no conservatório deixava-me frequentemente assim. Nesses dias, sentia que tinha poderes mágicos, um inebriamento de dias de Sol muito vivo... Escusado será dizer que tenho muitas, muitas saudades desses tempos.
Parece impossível, mas só agora estou a descobrir Mahler como deve ser... O seu pensamento denso e extenso não é fácil de seguir, e os andamentos interiores, mais pequenos e fluidos, parecem-me ser por onde se deve começar...
O Scherzo da segunda sinfonia introduz um tema muito simples... Um duende viandante, de chapéu verde comprido, dobrado na ponta, andar descomprometido e gingão, sorriso afável e uma aura de inebriamento que obriga à cumplicidade.
Para Claudio Abbado, não há palavras.
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2 comments:
Nada como um sorriso para trazer esses dias de volta! Belo!
Também eu sinto saudades...das tardes sentada a ouvir para lá das portas duplas o desenrolar de uma sonata após um dia já avançado para ti, mas ainda longe do fim para mim.... que aproveitava esses espaços para preparar as aulas da noite...num local que também me deixou saudades!...Os regressos a casa, comentando o desenrolar do dia, serpenteando as ruas do Bairro Alto...até àquela esquina dos correios onde o grupo se encontava para percorrer os Km que faltavam para chegar à meta e deliciar o estômago. Parabéns à VIDA...Continua a sorrir!
... RMVN
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